Acontece em Lisboa
Tudo o que tenho no saco: Eça e ‘Os Maias’

Consagrado como um dos grandes clássicos da literatura portuguesa, Eça de Queirós, escreveu crónicas, contos, romances, cartas, artigos de opinião, e muito mais, foi um génio incansável.
De todas as suas obras são, no entanto, “Os Maias” a mais marcante e aquela que ajuda a manter bem viva a presença do escritor no século XXI.
Considerada a sua obra prima é o fio condutor da exposição que a Fundação Calouste Gulbenkian lhe dedica pelos 130 anos sobre a sua primeira edição com o sugestivo titulo “Tudo o que tenho no saco”, frase que advém de uma carta escrita a Ramalho Ortigão onde desabafava que haveria de escrever não só um romance, mas um romance em que pusesse tudo o que tinha no saco. Embora no início com pouco sucesso acabou por se transformar num clássico traduzido em várias línguas.
Gravitando a volta deste expoente literário que são os Maias, aparecem outras obras do autor, como seja “O Primo Basílio”, “O Crime do Padre Amaro”, “A Relíquia”, “As Farpas” e outros não menos importantes como seja “A cidade e as serras” um romance delicioso pertencente a sua última fase. Mais do que romântico Eça queria ser verdadeiro perante a realidade que observava. Perfeccionista era obsessivo na busca da palavra certa e pretendia transmitir um caracter moralizador nas suas histórias evidenciando, e de que maneira, a vivência frívola da sociedade burguesa a ponto de a sua escrita ser acusada como imoral.
Ao longo da parede, contigua a entrada, aparece a cronologia da vida do escritor que foi largamente adaptado para o cinema, razão pela qual em todos os sete núcleos que compõem a exposição (1888 – A Vasta Máquina! / Aprendizagens / Guerra ao Romantismo / Norma e Desejo / Olhares Cruzados / A Arte é Tudo / Lugares) o som de excertos dos mesmos é uma constante. Para uma visão mais completa do escritor e da sua época a exposição inclui também fotografias, pinturas, caricaturas, esculturas, gravuras, e alguns objetos do seu espólio pessoal a que não podiam faltar as suas famosas lunetas.
Sendo a Gulbenkian um importante pólo cultural do país a exposição é bem mais vasta do que o que se pode ver em sala e no seu programa inclui também ciclos de cinema, jantares Queirozianos, conferencias e leituras encenadas.
No dia 14 de Janeiro o Foyer do edifício sede encheu-se de pessoas para assistir a “um Pais pequenino”, um pequeno duelo de farpas com os actores José Pedro Gomes e Tiago Rodrigues. Imperdivel.
Com o tempo Eça provou ser Intemporal.

Fundação Calouste Gulbenkian – Galeria do Piso Inferior

de 30-11-2018 a 18-02-2019