Acontece em Lisboa
Pieter Hugo-Between the Devil and the Deep Blue sea

“Todas as imagens são uma mentira”, a frase é de Pieter Hugo, fotografo sul africano de Joanesburgo, alertando para o perigo das leituras impulsivas com caracter definitivo pois é um erro subestimar a capacidade que elas(imagens) possuem de alterar a nossa relação com o mundo.
As fotografias tem o poder de chocar,  seduzir, despoletar sentimentos de nostalgia ou mesmo actuar como um memorial que nos identifica na história.
Mas nem todas as dores tem a mesma equidade de tratamento e nem todas as guerras a mesma cobertura devido, muitas vezes, as mensagens que se querem transmitir.
Acreditou-se que imagens de emoções pungentes de angustia teriam o condão de sensibilizar para os horrores de forma a erradica-los, tal não aconteceu, percebe-se, isso sim, que houve um recrudescimento de guerras, ou pelo menos uma maior divulgação das mesmas, em várias partes do globo.
Susan Sontag no seu ensaio “Regarding the Pain of Others” refere que o choque pode tornar-se familiar acrescentando não existir memoria colectiva apenas instruções colectivas. A dor é sempre pessoal. Curioso Pieter Hugo referir:
“Costumo fotografar em períodos de duas semanas, um intervalo de tempo que me permite ter o olho alerta. Mais do que isso fica-se demasiado habituado aos locais. Foi algo que me apercebi no Ruanda, quão rapidamente uma pessoa fica anestesiada e aclimatada a situações completamente inaceitáveis, como a mente é capaz de fazer isso.”
Talvez seja por isso que imagens de desespero aparecem junto de outras de cariz bem diferente e até mesmo de publicidade talvez, como diz Sontag, para libertarem a tensão, remetendo para o voyerismo que leva quiçá a uma insensibilidade, um é lá longe, mesmo que seja perto.
Fotografias desumanas forçam a reflexão sobre sistemas de crenças onde se considera haver pessoas menos humanas do que outras, legitimando-se desta forma as várias atrocidades.
A exposição, agora patente no museu Berardo, é constituída por 15 series (entre 2003 e 2016) e mais de uma centena de fotografias; Sobre o seu trabalho diz Pieter Hugo:
“O que me interessa na fotografia é a linha ténue entre arte e documento. Gosto de estar neste espaço, sem cair muito para um lado ou para o outro. É preciso questionar a veracidade do que vemos – perguntar: isto é possível? Isto será mesmo assim?”

Destaca-se, logo na primeira sala, o impacto da cor, do tamanho das imagens e o humano pelo humano. Não há atitudes moralizadoras há apenas o momento que cada um interpreta de acordo com a sua sensibilidade.
O fotografo inclui-se no meio das séries, faz parte dos ilustrados nas galerias.
Com um respeito imenso são apresentadas as subculturas, os outsiders e as margens da sociedade.
Percorre-se a exposição até não haver mais leituras.

Ao longo da nossa história fomos criando teias de moralismos e embustes a que alguns chamam progresso. A exposição de Pieter Hugo demostra que pelo caminho fomos esquecendo despojos que também são humanos.

Museu Coleção Berardo – Exposição Temporária
De 05-07-2018 a 07-10-2018