Acontece em Lisboa
Ver com Outros Olhos

Os sentidos são as janelas para a realidade que nos circunda; são eles que fornecem o estimulo para as sensações e alimentam as emoções. Os que, de entre a maioria e pelas mais variadas razões, apresentam distúrbios no seu funcionamento deparam-se, muitas vezes, com problemas não só pessoais como também sociais.
Com o objetivo de entender como é que um deficiente visual acede as obras de arte, o Movimento de Expressão Fotográfica (MEF) desenvolveu durante 3 anos o Projeto ‘Imagine Conceptuale’, que envolveu invisuais de diversas regiões do pais, num trabalho conjunto para contar histórias reais.
A ideia partiu de um coletivo de fotógrafos que comunicam arte através da fotografia, não admira, portanto, ter sido escolhida a imagem como o elemento de dialogo que potenciou uma nova leitura do tecido cultural, vista por outros olhos.
Todos os participantes no projeto tiveram formação em movimentos da história da arte nomeadamente Impressionismo, Expressionismo, Surrealismo e Arte Conceptual.

Lançado que foi o conceito estético, cada cego pensou e trabalhou na ideia, mensagem, ou lembrança que queria transmitir aos demais.

-Não se pretendeu formar fotógrafos – disse Luís Rocha, director artístico, mas sim dar voz a quem tem experiências de vida com limitações de visão, a fotografia foi apenas o meio para expressar as ideias que surgiram no intimo de cada um.

Todos os envolvidos aprenderam neste processo, que alerta para necessidade de diminuir as barreiras entre os invisuais e a restante sociedade promovendo nuns a autonomia no acesso a museus, exposições e outros certames de cariz cultural e nos outros a uma maior compreensão e habituação à deficiência.

Ao longo da exposição destacam-se frases plenas de significado

“Mostrar ao mundo que a cegueira não é escura. A cegueira tem luz, cor e beleza.”
“Ser cego não é fechar os olhos”
“As mãos são a visão de quem não vê”

E contam-se vivências.

Andreia Varela Monteiro

Fiquei sem palavras quando me perguntaram se podia cuidar do meu filho. Uma pessoa cega pode cuidar de um bébé.

Nantília Nunes

Sensação de estar perdida entre a alegria e a tristeza.

Silvia Lopes

O meu objectivo era mostrar a questão da luz. Mostrar ao mundo que a cegueira não é escura. A cegueira tem luz, cor e beleza, o lado positivo das coisas

Laurinda Martins

Uma imagem que mostra que as pessoas com deficiência visual não têm acessos facilitados

Marta Jordão (12 anos)

As pessoas perguntaram-me muitas vezes se os cegos dormem de olhos abertos ou fechados

Fiz esta fotografia para lhes dizer que nós dormimos de olhos fechados, como elas.

José Arriscado de Sousa

A ideia foi tirar fotografias aos objectos que já caíram em desuso para transmitir a mensagem que as pessoas cegas e com baixa visão não são inúteis , que continuam aptas para trabalhar, que não gostam de ser colocadas a parte e de ficar paradas .

Estamos cá e continuamos a ter capacidades.

Na exposição podem ver-se as fotografias escolhidas pelos invisuais apos uma descrição oral das mesmas. As correspondentes imagens tacteis são constituidas por um jogo de texturas de grandes e pequenas superficies de forma ao tacto perceber a diferença ajudando assim a leitura das mesmas; mas a experiência só pode estar completa com um audio guia que acompanha a pressão do dedo.

É uma exposição para todos e a todos os títulos louvável

What one records is really the state of one’s own mind- Virginia Woolf

Fundação Calouste Gulbenkian

Edificio Sede , Galeria do Piso Inferior

de 23-09-2018 a 12-11-2018