Acontece em lisboa
Lisboa Cidade Triste e Alegre

Longe das imagens grandiosas que enfatizam o esplendor de uma capital europeia que sujeitas a ditames de visões turísticas enchem mas não preenchem, as fotografias captadas para “Lisboa Cidade Triste e Alegre“ documentam o dia a dia das vidas simples de então, desvendando para os vindouros aspectos sensoriais e emocionais que de outra forma se esfumariam nas frinchas inexoráveis do tempo.
E é no desvendar dos seus segredos repartidos pelas mil e uma faces das sua vielas dos seus casarios e pateos interligados em corda com as suas gentes bem como nas galhofas e gritos que sobem como foguetes e claro nos gestos timidos de carinho, que Lisboa se mostra verdadeiramente sedutora, sabendo, no entanto, que a sua história só pode estar completa se não se omitir aqueles para quem a vida é menos generosa fruto de economias de casino onde o ser humano é transformado em mais um numero de uma contabilidade cada vez mais global.
Nas suas deambulações pelas ruas, na década de 50 do seculo XX, os arquitectos Victor Palla e Manuel Ramos da Costa Martins captaram uma cidade que abrindo as suas traseiras se mostrou sem toilette com os seus fados, misérias e dramas transformando em fascículos (sete) o feitiço da humanidade e do pulsar da alma da capital.
Cada imagem é uma história e ilustra uma época, onde a utilização de técnicas de baixas velocidades, altos contrates e cortes assumidos cortam com a ortodoxia académica da altura aproximando-se do estilo mais solto de Robert Frank. Agrupadas criteriosamente para construir uma fluída narrativa em jeito cinematográfico, as fotografias contracenam com poemas de autores portugueses e o livro que no lançamento em 1959 foi um fiasco editorial transformou-se nos dias de hoje num fotolivro de culto.
O museu da cidade presta-lhe a devida homenagem com uma exposição notável onde se desvendam os processos que estiveram na base da selecção e montagem da obra que é considerada uma das melhores da fotografia documental.