Acontece em Lisboa
Procissão da Senhora da Saúde 2019

Antes do terramoto de 1755 e do incêndio que lhe sucedeu e que destruiu uma boa parte da cidade, Lisboa albergava largas dezenas de conventos, capelas e igrejas e pelas suas ruas passavam inúmeras procissões. Nos dias de hoje, resistindo a modernidade dos tempos, a Procissão da Sra da Saúde, a mais antiga da capital, é um dos pontos de referência da devoção popular e é um agradecimento a Virgem por ter aliviado a população do flagelo da peste que tantas vidas ceifou no final da década de 60 do longínquo séc XVI.
Importa no entanto saber que o culto a Maria, mãe de Cristo, remonta aos primórdios da nacionalidade, logo com o primeiro rei D.Afonso Henriques, seu grande devoto, reforçada, mais tarde por D.João I, Mestre de Avis, e D.Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino por ter ouvido as preces e intercedido na decisiva Batalha de Aljubarrota. Mais tarde em 1646, D.João IV proclamou-a Padroeira de Portugal como ato gratidão pela restauração da independência nacional em relação a Espanha e ofereceu-lhe a coroa real;
Desde esse dia mais nenhum rei português a usou passando esta ficar colocada em cima de uma almofada, ao seu lado.
Apesar de ser uma festa em honra de Maria este ano a nossa reportagem acompanhou o Padroeiro das Forças Armadas Portuguesas, São Jorge, cuja veneração se pensa ter sido introduzida pelos cruzados ingleses que auxiliaram D.Afonso Henriques na conquista de Lisboa sendo mais tarde impulsionada por D.João I seu grande admirador, à qual não foi alheia a influencia da inglesa Filipa de Lencastre sua mulher e rainha.
No largo do Ministério da Defesa Nacional – Marinha, na Ribeira das Naus, os grandes camiões de transporte estacionados desde início da tarde do primeiro domingo de Maio deixavam antever os majestosos cavalos da Guarda Nacional Republicana.
Preparados os arreios em tons festivos e já com os cavaleiros em cima das selas grande era a azafama, quando da capela saiu São Jorge montado no cavalo branco que o levaria pelas ruas históricas de Lisboa.
De lança em punho e com a capa da cor que lhe é associada, o vermelho, o Santo Guerreiro que nascido na Capadócia se tornou soldado do Imperio Romano subindo aos altares como o santo que representa a coragem e a resistência ao opressor percorreu o Terreiro do Paço, a rua da Prata e a Praça da Figueira em direção ao Martim Moniz onde a Senhora o esperava no seu festivo e grandioso andor.
Após a solene vénia, os cavalos dirigiram-se para a apertada rua do Benformoso, na mouraria onde uma grande parte dos seus moradores não é cristão e onde os aromas orientais estão constantemente presentes no ar fruto das várias lojas de especiarias que por lá se instalaram.
Grande era a imponência dos cavalos que junto de adultos e crianças se mantiveram calmos durante longos minutos.
-Estes rapazes têm um trabalho bem difícil e meritório, dizia o mestre de cerimónias relativamente a guarda nacional, respondendo a alguém que o interpelava acerca do exemplar comportamento dos animais.
Inúmeros eram os turistas, crentes e até muçulmanos que com um misto de entusiasmo e receio fotografavam os cavalos e cavaleiros, especialmente o que transportava o santo que deu o nome ao castelo conquistado há séculos precisamente aos mouros.
Quando retomaram a marcha passaram no largo do intendente em direção a Avenida Almirante Reis onde várias pessoas se avolumavam aqui e ali nos passeios para ver passar os andores de Santa Ana, Santo António, Santa Bárbara e São Sebastião intercalados por confrarias, irmandades e bandas.
Por fim a imagem de Nossa Senhora fechava a secção dos andores do cortejo.
O séquito com os cavalos a frente dirigiu-se uma vez mais para ermida da Senhora da Saúde, no Martim Moniz, onde São Jorge a esperou para ultima vénia a Virgem.
Descia São Jorge  a rua dos Fanqueiros quando alguém atirou pétalas vermelhas talvez numa alusão a lenda que diz ter uma rosa brotado do sangue do dragão quando Santo o apunhalou, razão pela qual em Barcelona e no dia de São Jorge é tradição presentear a mulher amada com uma rosa vermelha.
Os deslumbrantes cavalos e cavaleiros atravessaram a esplêndida praça do Terreiro do Paço de volta ao edifício da Marinha para o merecido descanso.