Acontece em Lisboa
Procissão da Senhora da Saúde 2018

Embora fosse o primeiro domingo de maio a canícula que se fazia sentir no largo em frente a ermida da Senhora da Saúde, no Martim Moniz, mais parecia a de um dia de Agosto. Chapéus, casacos e mesmo lenços improvisados de plástico cobriam algumas das cabeças que oravam perante a imagem de Maria exposta em altar provisório, numa tentativa inglória de impedir a sensação acelerada de expansão e contracção que descompassava a mola mestra dos seus relógios biológicos.
Os barulhos circundantes misturados com o ritmo regular dos trolleys de turistas na branca calçada e os leves sussurros dos pedidos milagrosos à Virgem davam a certeza muito real e muito grande da mistura de culturas e da convivência de diferentes visões numa cidade que abriu a suas portas ao mundo.

As 16h00 a Senhora saiu do altar  num andor repleto de flores para se posicionar no asfalto virada de frente para a sua ermida; iniciava-se assim a mais antiga procissão da capital. Surgida no reinado de D. Sebastião, por volta de 1568 como consequência de um pedido de auxilio da população para que a Virgem intercedesse perante o Divino a fim de acabar com a peste que grassava pela cidade, passou a celebrar-se anualmente como reconhecimento de um povo agradecido pela diminuição da mortandade ocorrida.

A multidão aglomerava-se, os conhecidos cumprimentavam-se, aqui e ali surgiam algumas trocas de galhardetes mais inflamados entre quem com impaciência aguardava, quando os andores de Santo António, São Sebastião e Santa Barbara saíram da capela curvando-se a distância perante Maria, posicionando-se a seguir na Rua da Mouraria. São Jorge montado num bonito cavalo branco aparece no Poço do Borratem escoltado por um destacamento a cavalo do Regimento da Cavalaria de Guarda Nacional Republicana.

De devoção inglesa, São Jorge entra no panteão dos santos nacionais pela mão dos vencedores da Batalha de Aljubarrota, devido ao facto de João Gante, filho de Eduardo III de Inglaterra, ter apoiado a facção do mestre de Avis. Santo padroeiro de Inglaterra, São Jorge passa a sê-lo também das Armas Portuguesas substituindo Santiago Maior.

Após a veneração de São Jorge à Virgem a procissão iniciou o seu percurso na rua da Mouraria, passando depois pela Rua do Benformoso, Largo do intendente, Rua dos Anjos, Av. Almirante Reis, Rua da Palma, Praça de Figueira, Poço do Borratém regressando por fim novamente a Praça Martim Moniz, onde a venerada imagem da Senhora da Saúde voltou a entrar na pequena igreja.

Crentes, habitantes e curiosos amontoavam-se uns para assistir e outros para participar numa das mais emblemáticas procissões de Lisboa.

Cumpriu-se a tradição.