Acontece em Lisboa
Festival Máscara Ibérica 2019 – Dia de Abertura

Marcado para o período de 16 a 19 de Maio o Festival da Máscara Ibérica assentou arraiais, nesse fim de semana, na Praça do Império, em Belém.
O cartaz com a programação do certame para 2019 ilustrava com cores fortes os “Los Sidros de Valdesoto”, e antecipava festa rija e vibrante.
O jardim que rodeia a fonte luminosa mais pareceu, nessa data, um mercado de guarda-sóis brancos e brilhantes, mas na verdade eram tendas montadas para a ocasião com o intuito de divulgar o artesanato, a gastronomia e outros interesses culturais das várias regiões presentes.
Embora a brisa soprasse fresca a ponto de criar correntes de ar por todo o lado, tal não desviou o interesse pelos produtos expostos incentivando até um passeio atento pelas bancas apelativamente decoradas.
Máscaras penduradas mantinham vivos os resquícios de ancestrais rituais pagãos associados as civilizações primitivas que ocuparam o território, vincando nos dias de hoje um interesse patrimonial cuja tradição é importante valorizar para não caírem em esquecimento.
Os povos da antiguidade (celtas, romanos, gregos) celebravam as suas festas agrárias cultuando o sol e a natureza, e para isso criaram, entre outras, figuras de diabos e de caretos, personagens mágicas com poderes e liberdades suficientes para afastar o maligno, todas elas carregadas de grande influência simbólica.
Viviam-se tempos de ritos mágicos solsticiais em que o ano velho dava lugar ao novo.
Prosseguindo esse eterno ciclo de renovação os costumes adaptaram-se aos desafios da modernidade e a arte assentou em novas ideias. Máscaras deixaram a exclusividade do seu suporte rústico e transitaram para pinturas em lenços e echarpes por inspiração de Balbina Mendes e até mesmo os presépios ganharam novas formas pelo engenho de Serranitas da Gralheira. No passeio o diabo tinha aspeto de farandulo com a cara tisnada de carvão negro carregado e mãos da mesma cor, calças pretas, casaco virado do avesso com um balandrau preto por cima e botas de cano alto. A volta do corpo um rosário feito de carrinhos de linhas e bugalhos dos carvalhos. Na cabeça um carapuço de cartão em forma de prisma alto e recortado e a tiracolo, um bornal para guardar o que conseguia surripiar finalizava a sua caracterização.
Artesãos houve que em recinto improvisado e numa demonstração do seu ofício esculpiram máscaras e trabalharam a lã para os fatos dos famosos Caretos de Podence. O espaço estava assinalado com um manequim destes “demónios benfazejos” vestido a rigor. A indumentária consistia de um fato de colcha de lã de tear tradicional com várias franjas coloridas, um rabo farfalhudo que pendia da nuca até as ancas e na cintura chocalhos, muitos, com campainhas a cruzar nas costas. Na cara uma máscara feita de folha de lata com aberturas para a boca e olhos com um nariz bicudo e uma cruz preta na testa. A terminar um grosso cajado.
No primeiro dia a animação esteve a cargo dos alegres “Los Sidros” que com o auxílio das suas enormes varas saltavam, faziam soar os seus chocalhos, abraçavam os pequenitos e irradiavam boa disposição.
O oriente também esteve presente, e a Colômbia saudou e surpreendeu os presentes com as suas máscaras Zoomórficas, onde os olhos refulgiam. Pura fantasia.
Nas inúmeras bancas de comida as sandes de presunto, queijo e até torresmos cativavam os ougados visitantes. Claro que a sidra, a cerveja, as sangrias e os licores vários foram também escolha de destaque.
Comum a todos os feirantes foi a simpatia no atendimento que longe de ser simulada era sentida, contagiante e quase palpável.
Debates, tertúlias, concertos e exposições enriqueceram ainda mais esta lembrança das festas dos tempos em que as divindades eram múltiplas e ávidas de oferendas.
Tempos em que o mágico e o burlesco tinham um sentido importante não pelo aspecto teatral mas por dar entrada ao novo ciclo da natureza.