Acontece em Lisboa
Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho

Azul, um intenso azul cobalto domina o ambiente visual logo a entrada da exposição patente nas galerias do museu (coleção do Fundador) da Fundação Calouste Gulbenkian desde o dia 12 de Julho. Inexistente na antiguidade, o azul era apenas conhecido no Egipto, e foi escolhido por ter sido a cor do quarto de Sarah Affonso quando esta vivia em Bicesse.
Contemporânea, entre outros, de Amadeo de Souza Cardoso, Mario Eloy e Almada Negreiros, nomes grandes do nosso roteiro cultural, famosos por marcarem uma nova visão artística, Sarah não podia ficar indiferente ao movimento modernista que conheceu em Paris, cidade onde prosseguiu os estudos depois de numa critica sobre os seus primeiros trabalhos expostos num certame coletivo a terem incentivado a desenvolver os seus talentos além-fronteiras.
Discípula de Columbano na sociedade nacional de belas artes passou a sua tenra infância, entre os 5 e os 15 anos, no Norte, em Viana do Castelo, região rica em procissões, romarias e festas, repletas de cores efusivas e vibrantes.
O Minho moldou-lhe uma boa parte da infância e foi o modelo perfeito para muitas das suas criações.
Logo a entrada o quadro “Casamento na Aldeia” convida o visitante a uma espécie de reflexão reconfortante do mundo. Apresenta-se, á primeira vista num espaço plano mas logo ultrapassa as duas dimensões e ganha matizes e perspetivas que cada completará com a sua imaginação.
As restantes obras contam também elas muitas histórias, as visíveis, as que a autora quis transmitir e as que os que as contemplam idealizam.
Atraem com doçura e graça os vários olhares que as observam. Em frente a Sereia, um tema caro a Sarah, ouvia-se no corredor a exclamação espontânea de uma menina.
-Mãe já viste, olha que olhos tão giros.
Mas há também os retratos anónimos de mulheres com lenços na cabeça,  figuras isoladas ou com filhos nos braços e cenas rurais rodeadas de verde.
São quadros que dialogam para além da visão porque envolvem outros reinos mais íntimos, os da emoção.
Sendo o tema principal o Minho, aparecem vários elementos desta região expostos aqui e ali de forma a clarificar a sua importância não só na sociedade de então como a exaltar a sua herança na criatividade plural da artista.
Multifacetada, a sua obra inclui registos de desenho e pintura em diversos suportes, muitas vezes ditadas por questões financeiras, papel, tela, botões, bordados e tricot cujos motivos populares passou a pintura.
São dela as primeiras ilustrações de a “Menina do Mar” de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Reconhecida pela critica e pelos pares recebeu aos 45 anos o premio Amadeo de Souza Cardoso pelo quadro “Retrato do Filho”.
Com casamento tardio a época ela com 35 ele com 41 Sarah Affonso era a mulher e companheira de Almada Negreiros

Coleção do Fundador – Galerias do Museu e Galeria do piso inferior

de 12-07-2019 a 07-10-2019