Acontece em Lisboa
Do Tirar polo Natural – Inquérito ao Retrato Português

Pintor da corte, arquiteto, ensaísta e humanista no reinado de D.João III e Catarina de Áustria, Francisco de Holanda (1517/18 – 1585), filho de um famoso iluminador holandês que serviu Portugal como escrivão da nobreza, foi autor do primeiro tratado sobre pintura escrito no país, “Da Pintura Antiga” (1548) e um ano mais tarde de 10 diálogos ilustrados, intitulados “do tirar polo natural”,  que foram adicionados como anexo “Da Pintura Antiga” .
E foi este pequeno tratado quinhentista, sobre a teoria, prática e valor artístico do retrato, que aborda, em 10 capítulos, os problemas da fisionomia em arte que serviu de mote ao titulo da excelente exposição que se pode visitar no Museu Nacional de Arte Antiga.
Divididos em 3 núcleos, os retratos atravessam vários séculos e apresentam vários suportes e técnicas como seja pintura, fotografia e escultura entre outras.
Na folha de sala pode ler-se relativamente aos 3 diferentes polos expositivos:

“Do Afetivo (entre a presença e a ausência)
O retrato é um dispositivo afetivo. O retrato é a presença de uma ausência. O ausente torna-se presente através do retrato, mas essa ausência também é sublinhada por essa presença. O retrato é por isso um paradoxo……

Da Identidade (entre verdade e ficção)
O retrato é um dispositivo de subjactivação.
Não serve apenas para recordar ou homenagear outros, é uma forma de invenção da individualidade, de descoberta e afirmação de si. Poderá ser menos consequência da vaidade do que uma busca sincera de autoconhecimento – não de uma identidade já fixa e terminada, mas sempre a fazer-se e resultado da relação com os outros……

Do Poder (entre força e vulnerabilidade)
Um retrato transporta sempre algo de potência sacralizante. Esta operação estética foi bem compreendida pelo poder: politico, económico, religioso e social. O retrato assinala o status e a posição do retratado, normalmente em imagens de opulência e de afirmação da autoridade do individuo, numa teatralização de si.
A imagem do rei deve ser reconhecida e reconhecível, a sua omnipresença é garante do seu poder.
De fora, sem imagem, ou em posição subserviente nela, ficam os marginais, os diferentes, os excluídos do poder e os que não tem direito a representação. No entanto, a história do retrato é também a historia da sua queda – ou seja, da sua vulnerabilidade. Numa revolução, a imagem que simboliza o poder é a primeira a cair, e outras serão erguidas no seu lugar……”

Mas nem só de poderosos se faz esta exposição; Bem em destaque um bloco da parede de um bairro pobre da Amadora onde o artista Vhils esculpiu os retratos de 3 gerações. A ladeá-lo dois austeros quadros de um homem e de uma mulher da nobreza setecentista.

Sinais de evolução para um novo olhar em que todos tem lugar?

Galeria de Exposições Temporárias – Museu Nacional de Arte Antiga

de 28-06-2018 a 30-09-2018