A chuva tão aguardada batia forte na calçada quando um casal após vislumbre rápido do grande painel que anunciava a exposição de Paulo Quintas decidiu entrar na Cordoaria.

Lá dentro o espaço amplo e bem iluminado deu a Marie a sensação de infinito. Desenlaçou suavemente o braço do seu companheiro com o olhar fixo para o abstracto das obras que vestiam as paredes. Gostava de soltar a imaginação e entrar num mundo  que era só seu.

“Todos os Títulos estão Errados”, era o mote para a apresentação pública dos trabalhos de Quintas, acariciou a ideia pois títulos eram rótulos que induziam percepções nos visitantes. O despojamento da síntese pela palavra desfez a melancolia que sentia antes de entrar e era um bálsamo para as imagens que criava a partir da sua interpretação sem qualquer resistência. Os sinais misturavam-se com a geometria sem julgamentos contraditórios. Portas abriam mundos de colagens e cores, e a porta fechada no centro de um quadro rodeado de pétalas  e linhas convidou-a a viajar parada.

Antes de sair fez questão de ler a folha de sala, percebeu então tratar-se de uma antologia de três décadas do trabalho de Paulo Quintas com uma selecção cuidada de uma centena de obras do autor.

Lá fora o sol espreitava atrás de uma nuvem que se desfazia dando um brilho resplandecente ao que havia pouco lhe parecera insípido,  as gaivotas gritavam num som rouco e o seu companheiro encostado a porta aguardava.

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