Acontece em Lisboa
Feira do Livro 2019

A banca profusamente repleta de excelente literatura estava apetecível. Folheou ao acaso “Deteve-se a olhar para as campas cobertas de inscrições saudosas, flores caras, de candeeiros vermelhos dentro dos quais uma chama curta ia sucumbindo…” em “A Ronda da Noite” de Agustina Bessa-Luis. Talvez inconscientemente estivesse a fazer uma homenagem póstuma a grande escritora portuguesa que acabava de deixar a dimensão terrena, e nada melhor do que percorrer a sua escrita.
Continuou a leitura um bom par de paginas a frente “ -Sempre se comeu roast beef cá em casa – Ele lembrou-se das travessas de cristofle com massa alourada no forno e dos grandes pedaços de carne em sangue cheirando a queimado;  a mostarda, os pickles, o vinagre de vinho a soja escura. “ Idealizou a cena e dai até se lembrar de episódios da sua própria infância passou uma migalha de tempo, afinal nada há de mais mágico do que a recordação dos momentos felizes já vividos.
A leitura tem a capacidade única de desarrumar os lugares comuns e de transportar os seus seguidores a patamares de satisfação pessoal que só quem os consome consegue entender, afinal o acesso a séculos de evolução não é assunto que se possa desprezar.
Continuou a percorrer a Feira do Livro de Lisboa, a maior celebração a imaginação que conhecia e sentou-se a ouvir uma palestra sobre o desconcerto do mundo moderno, presumíveis motivos e possíveis indicações de diferentes caminhos para futuros mais promissores para todos.
A alguns metros as crianças gritavam de felicidade sentida ao saltar num colchão insuflável quando no recinto ecoou mais uma vez o programa dos autores presentes para um dedo de conversa e claro para o autografo que enche de orgulho o possuidor da preciosa mercadoria
Continuou o percurso cruzando-se com várias pessoas, muitas com sacos repletos de livros, aqueles companheiros silenciosos que tem o condão de preencher vazios de existência e cuja presença é um bálsamo para quem os transporta.
Lera que o dr. Daniel Gilbert, psicólogo de Harvard, teria escrito: “A maior conquista do cérebro humano é a capacidade de imaginar objetos e episódios que não existem no reino do real, e é essa capacidade que nos permite pensar no futuro. Como um filósofo observou, o cérebro humano é uma ‘máquina de antecipação’, e ‘fazer o futuro’ é a sua função mais importante.”.
Os livros são, isso tinha a certeza um dos maiores ginásios da mente e a feira do livro uma das maiores redes de encontros amorosos, com os companheiros de papel.
A verdadeira missão do homem é viver não existir – Jack London