Olhares curiosos observavam os papeis multicolores que pendurados em fios baloiçavam ao vento e espicaçavam a coragem dos mais audazes para explorar com delicadeza o seu conteúdo.
Graciosos, os policromos bilhetes (Tanzaku) apresentavam uma paleta repleta de significado, brancos(paz), vermelho(paixão), azul (proteção)…., e acolhiam os desejos de quem os escrevia, alegrando o ambiente de festa que tinha como tema o festival Tanabata, um dos mais populares do Japão.
A religiosidade tradicional japonesa embora tenha o Xintoismo como religião nativa é maioritariamente uma elegante simbiose de Xintoismo e Budismo com elementos do Confucionismo e do Tauismo. A sua influência nas artes é inegável e provoca no ocidente um imenso deslumbramento largamente demonstrado pela vasta afluência de visitantes que no dia 22 de Junho encheram o jardim Vasco da Gama, em Belém.
Tendas brancas de um lado e vermelhas do outro preenchiam o perímetro e brilhavam sob um sol que desde o meio da manhã ganhava a força de um pleno dia de verão.
No interior a oferta era extensa e variada, desde produtos típicos da gastronomia japonesa, a esclarecimentos e informações relevantes sobre as mais icónicas expressões culturais do Japão incluindo as mais populares e abertas a modernidade, como seja o Cosplay, não esquecendo as que tem na sua origem uma cuidadosa disciplina física e mental, como sejam as artes marciais, os arranjos Florais Ikebana e a cerimónia do chá.
Sobre esta última pela delicadeza e singular estética pode ler-se na “arte do chá” de João Rodrigues Tçuzu

“No japão, moendo primeiro a folha seca ou torrada em pó de cor verde, a modo de farinha fina em umas mós de pedra preta pequenas e muito bem feitas só para esse efeito, a que chamam Chausu, isto é, mó do chá. Estes pós verdes moidos deste modo metem em uma bocetinha (vaso) de verniz fino, ou em certos boioezinhos de barro servem do mesmo. E tomando destes pós com uma colherinha de cana que disso serve, botam uma ou duas colheres destes pós em uma porcelana, e logo por cima deles botam água quente fervente, que para isso têm sempre prestes, e a mexem delicada e subtilmente com uma escovinha de cana que para isso tem acomodada com que fica delida e sem pelouros, a modo de água verde da cor dos pós do mesmo chá”. 

Protegido por divindades Kami que enviavam ventos divinos (Kamikaze) em ocasiões de crise nacional, o país do sol nascente, durante muito tempo fechado ao mundo, é no presente um arquipélago onde a tradição e a modernidade se fundem e onde a milenar espiritualidade ainda conserva a sua originalidade e autenticidade contribuindo para fazer do Japão um local misterioso e fascinante, desde Hokkaido, a norte, berço da cultura Jamon a Okinawa a sul.
São, na verdade, ilhas que fazem sonhar.

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