Quando o tema versa comportamentos morais que conduzem ao engrandecimento pessoal e ao respeito pelo próximo este reveste-se de uma actualidade inquestionável.
Calouste Gulbenkian que a data da sua morte, com 86 anos, era considerado o homem mais rico do mundo desvendou os princípios que pautavam a sua vida ao expressar os seus valores e convicções mais profundos nas cartas que enviou ao seu neto Mikael Essayan que na altura estudava num colégio interno perto de Londres, o colégio Harrow.
Proveniente de uma família da aristocracia arménia e de um povo que quase foi extinto no genocídio, Gulbenkian chamou a si a responsabilidade da orientação global da educação de Mikael, o filho da sua filha. Inserido nas celebrações relativas aos 150 anos do seu nascimento que se festejam neste ano de 2019, foi recentemente publicado uma cuidadosa selecção dos conselhos que ele escreveu ao seu neto neste contexto, com o titulo “A Educação do Delfim”.
Numa iniciativa a todos os títulos louvável a Fundação Gulbenkian incluiu na sua programação de Jardim de Verão, uma leitura encenada onde, ele Gulbenkian sentado num sofá e Mikael em frente a uma secretária, divulgaram algumas das cartas numa encenação notável.

Leiam-se então com calma alguns pequenos excertos.

No proximo ano lectivo Imprima ardor, zelo e gosto ao seu trabalho, de modo que ao questionar a sua consciência, esta possa responder “Estou satisfeita contigo pois deste o melhor de ti mesmo”.

Não pode imaginar a felicidade que mais tarde experimentará uma vez adquirido não apenas o hábito, mas o amor pelo trabalho. Tudo aquilo que se apresente difícil aos outros, será fácil para si, e poderá ultrapassar as dificuldades encarando-as como um desporto….”

-“Este hábito de fazer o seu very best desenvolve-se com a idade e assegura, no futuro, o completo domínio de si mesmo. É este hábito que lhe permitirá atingir grandes objectivos com uma facilidade surpreendente.
A vertente moral é o leme indispensável, só ela garante o equilíbrio do homem, e sem ela quaisquer sucessos que possamos alcançar levam inevitavelmente ao fracasso.
Nunca minta, tenha a coragem de dizer a verdade, por mais difícil que por vezes possa ser. Seja profundamente honesto perante todos, dessa maneira também se tornara ou permanecerá honesto perante si mesmo e isso protege-lo-a dos erros da vida. Ao iludirmos os outros, acabamos progressivamente por nos iludir a nos próprios e por dar a mentira a aparência de verdade.

Um homem extraordinariamente dotado será, sem duvida, bem sucedido. Porém, quando desprovido do famoso leme moral, tornar-se-a gradualmente um ser odioso, devido ao seu pretensiosismo, a sua vaidade excessiva, ao desprezo pelos seus semelhantes, a falta de benevolência e de compreensão para com as suas fraquezas ou as suas falhas, e sobretudo devido a cegueira para com as suas próprias.

-“Sempre que escreve uma carta, deve dedicar-lhe todo o seu empenho, de modo que a forma, tanto quanto o conteúdo, fiquem impecáveis. Dará assim ao seu interlocutor, seja ele quem for, testemunho da estima e da consideração que lhe dedica e, neste caso concreto, uma demonstração do seu afeto e dos esforços que lhe faz para lhe agradar.
Ao longo da vida, irá conhecer muitas pessoas que, a primeira vista, dão a impressão de terem vastos conhecimentos, uma grande erudição, mas depressa perceberá que por detrás de uma fachada brilhante se encontram apenas conhecimentos dispersos e desarticulados, numa palavra, quer dos estudos ou das pesquisas que levaram a cabo nada mais resulta do que uma miscelânea sem valor. Por falta de concentração e de dedicação, essas pessoas nunca se esforçaram por aprofundar as coisas, e contentam-se com o arranhar da superfície. Mais cedo ou mais tarde, a ausência de esforço vem ao de cima.

Como esponja o ser humano absorve os exemplos e ensinamentos que lhe são facultados desde a mais tenra idade, razão pela qual a educação e a instrução são de uma importância vital para o futuro das sociedades e não deve de forma alguma ser descurada.

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