Assim que soube que Velazquez tinha uma pintura exposta como obra convidada no Museu Nacional de Arte Antiga logo agendou a obrigatoriedade da sua visita.
Como retratista tinha em Velazquez um mentor não só pela qualidade sublime no uso da cor como pela mestria irrepreensível dos seus desenhos e manchas. Claro que o respeito no tratamento dos retratados destacando as individualidades de cada um fora algo que o aproximara ainda mais deste insuperável artista que tanto admirava.
Com o bilhete na mão subiu ao primeiro piso e não teve qualquer dúvida sobre a direcção a seguir pois o intenso vermelho no fundo de um corredor de ombreiras de portas ligando várias salas foi suficiente para saber que era ali que estava a obra que procurava.
Vinda do Museo del Prado, a Sibila destacava-se não pela suas dimensões mas pelo tema e pela técnica sendo mesmo considerada uma obra prima singular do grande mestre Sevilhano.
Longe de ser uma pintura de inicio de carreira onde abundavam os temas religiosos, era, no entanto, uma obra notável onde se reconhecia sem margem para duvidas o resultado da compilação de uma bem sucedida aprendizagem de tecnicas aliada a uma fascinante singularidade narrativa
A modelo apresentava traços poderosamente realistas no rosto o que levou muitos a acreditar serem inspirados num modelo de carne e osso, provavelmente a sua mulher. Vigorosas pinceladas num equilíbrio perfeito entre o desenho e a cor facultavam um valor estrutural a tela, com a manga a invadir a parte inferior cujas pregas se pressentiam executadas em rápidas e certeiras pinceladas. Embora a figura feminina, com o olhar fixo em frente, invadisse o primeiro plano, o artista colocou a tábua obliqua para aumentar a sensação de volume e dinamismo da composição.
A paleta com uma gama cromática baseada em ocres, marfins e cinzentos criava uma sensação de espaço transmitindo uma serenidade que não lhe era indiferente.
As variações de luz do plano de fundo com cores subtis potenciavam, e de que maneira, o efeito tridimensional da profetiza.
Quiçá uma Cassandra e ao olhar para o braço direito livre disponível para escrever na tábua que a mão esquerda segurava fê-lo questionar o que escreveria ela num oráculo dos tempos modernos.
Por sugestão, apenas por sugestão viu escrito as palavras “Conhecimento” e “Empatia”. Ela previa que só o Conhecimento poderia levar a compreensão das complexidades que se foram criando nas civilizações e só que só com ele se poderiam ter intervenções activas e construtivas num futuro que todos queremos melhor. Mas nesta formula onde todos tem uma palavra a dizer teria de existir mais empatia entre os seres e sincera vontade de fortalecer carácteres.
Lembrou-se então de ter ouvido a grande pianista Mitsuko Uchida, não com estas palavras mas com este sentido, que todos poderiam atingir estágios de genialidade, mas para isso tem de se querer com a alma.

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