Acontece em Lisboa
O mercador de Veneza
O narrador senta-se na primeira fila, mesmo a frente dos atores que ainda ensaiam deambulando com algum nervosismo; não admira, são estudantes que por paixão se dedicam a arte da interpretação.
A peça escolhida por este Grupo de Teatro pertencente a Universidade Católica para o Festival Académico Fatal 2017 é o Mercador de Veneza e embora não profissionais têm a ousadia de escolher uma história escrita por aquele que é reconhecido como um dos maiores dramaturgos de todos os tempos William Shakespeare.
Longe de padrões comerciais e imposições de sucessos de bilheteira, a liberdade de abordagem é uma constante que caracteriza as companhias, perdão universidades, que se candidatam a este festival cada vez mais aclamado e reconhecido.
Pontualmente, após algumas prévias informações ao fotógrafos, apagam-se as luzes e para lá do pano de fundo que não existe, vislumbram-se na penumbra várias cadeiras dispostas em círculo pouco perfeito.
O encenador indica que se está numa das ruas de Veneza, dois focos de luz iluminam Salânio e Salarino que avançam para o proscénio.
A história desenrola-se em solilóquios bem estruturados, por vezes em casa de Porcia, por vezes na rua por vezes na casa de Shylock.
Despojados de todos os adereços alusivos á época em que o mercador se movimenta, os atores recriam de forma encenada o fólio que tiveram de estudar e onde se reconhece a eloquência do grande poeta inglês e a sua magistral demonstração de como a parte invisível de cada um pode ocultar o mais profundo sentimento ardiloso independentemente do credo, sejam eles cristãos ou judeus, mas neste mundo não pode o narrador entrar.
E assim, de acordo com os ditames da história vão aparecendo Porcia com o seu ar de Madona, Nerissa ou seria Jéssica, com uma postura de diabrete e o restante elenco numa sequência que pouco importa agora para o seguimento desta história.
A intensidade e duração das palmas finais são uma forma de o público agradecer o empenho de todos os que tornaram possível a representação da peça e é correspondido com vénias profundas.
Segue-se a tertúlia, uma imagem de marca deste festival em que a interpretação dos espectadores é confrontado com o que os atores querem transmitir e onde se desvendam entrelinhas numa amena conversa de perguntas e respostas. Percebe-se a intencionalidade da escolha da peça que está fortemente relacionada com questões de direito, mas, neste ponto, infelizmente o narrador teve de se ausentar.
Grupo de Teatro da Universidade Católica de Lisboa
08-05-2017 Cantina Velha