Acontece em Lisboa
Encontra-me, Mato-te

O escuro para lá da porta atraiu a atenção de quem apenas deambulava no recinto de entrada no Acarte e como um vírus infectou-lhe a vontade de mergulhar no mistério que antevia.
Leu atentamente o grande painel colado na parede lateral com a explicação dos elementos expostos.
Resumiu mentalmente
“Fruto de uma forte experiência pessoal a artista Sara Bichão, questiona-se sobre a sua identidade e de como se interliga com um todo maior.
A meio da travessia de uma cratera de um lago vulcânico, Sara, em pânico, não avistando qualquer pedaço de terra sente a pequenez da sua presença na dimensão maior da natureza, como uma partícula menor e impotente no todo que a envolvia.
No caldo do abstracto destas ideias arrebatadoras a sua materialização impôs-se.”

Reflectiu na imensidão do vazio e sentiu a forte realidade de um paragrafo que acabara de revisitar nessa manhã.

“…O inalcançável é sempre azul..

-Se eu fosse o primeiro astronauta, minha alegria só se renovaria quando um segundo homem voltasse lá do mundo: pois também ele vira. Porque não é substituível por nenhuma descrição: ter visto só se compara a ter visto. Até um outro homem ter visto também, eu teria dentro de mim um grande silêncio, mesmo que falasse.

Consideração: suponho a hipótese de alguém no mundo já ter visto Deus. E nunca ter dito uma palavra. Pois se nenhum outro viu é inútil dizer.”

(A Descoberta do Mundo- Clarisse Lispector)

Entrou então na cenografia de luzes e objectos que adivinhava no espaço.
Entremos com ele também.

Coleção Moderna – Espaço Projecto
de 16-03-2018 a 4-06-2018