Acontece em Lisboa
Dança Indiana no Museu de São Roque

Nomeado Superior (e mais tarde Procincial) de toda a Missão da India Oriental, desde o Cabo da Boa Esperança até a China, São Francisco Xavier foi um nome maior da Companhia de Jesus liderada pelo Basco Inácio de Loyola. Nascido em Pamplona (Espanha) no ano de 1506, a sua vida e obra inspiraram as 20 telas, da autoria do pintor André Reinoso (e sua oficina), que se encontram na sacristia da Igreja de São Roque desde 1619, três anos antes da canonização deste santo Jesuíta. Um privilégio, pois, poucas são as obras dessa época que podem ser apreciadas no local para as quais foram concebidas.
Tendo como motivo principal os 400 anos deste ciclo pictórico relativo a vida e lenda do Santo a Santa Casa da Misericórdia propõe um magnifico programa cultural a todos os que pretendam unir-se nesta maravilhosa viagem ao oriente seguindo o itinerário Xaviano.
Sobranceira ao largo Trindade Coelho a igreja que foi a casa professa dos Jesuitas em Lisboa apresenta-se de fachada simples e austera bem diferente do esplendor e sumptuosidade do seu interior, numa clara mensagem simbólica sobre as qualidades a desenvolver para uma vida venturosa.
Mestres da palavra, não é de estranhar que os dois púlpitos colocados face a face no meio da igreja tenham um papel preponderante, mas os Jesuítas eram também conhecedores do poder da imagem como meio incontornável para transmitir valores educativos, razão mais do que suficiente para explicar a profusão de relíquias e a beleza das inúmeras pinturas que inundam o espaço.
Retomando este conhecimento de outrora o roteiro proposto dedica um mês a cada uma das regiões por onde Francisco pregou como missionário, cargo despoletado quando o embaixador de Portugal em Roma D.João de Mascaranhas o recomendou a D.João III.
Julho é dedicado a India, essa enorme área geográfica do subcontinente indiano com uma diversificada e rica cultura milenar. Sendo uma das civilizações mais antigas da história recebeu com o passar dos séculos várias influências ocidentais e orientais que concorreram para uma enorme pluralidade cultural em que os novos costumes se integraram com as tradições ancestrais sem, no entanto, estas perderem a sua essência.
Com um extenso território e várias etnias a India acolhe danças que vão desde a clássica ao modelo contemporâneo passando pelo folclórico. Se esta última é de expressão popular e ao alcance de todos a clássica obriga a um conhecimento da simbologia dos movimentos por parte do publico para uma completa fruição da expressão artística pois geralmente envolvem um tipo de drama/teatro em que os dançarinos contam uma história com raízes nas artes hindus.
Na sala do brasão do museu de São Roque, a Comunidade Hindu de Lisboa, dedicou um fim de semana a explicar os traços gerais das diferentes tipificações de dança.
A tarde de sábado dia 6 de Julho o destaque foi para as danças clássicas Bhartnatyam e Kathak que seguem as regras inscritas no Natyasastra, documento em sânscrito que define o dramaturgia que liga palavra, mimica, musica e dança estabelecendo os seus princípios técnicos e estéticos.
Enquanto Kathat, conhecida no Norte Indiano onde as influências de povos mongóis e muçulmanos são fortes, envolve um elaborado movimento dos pés e vertiginosos rodopios corporais, Bhartnatyam oriunda do sul da India caracteriza-se por um compasso marcado pelos pés embalados por intensa precursão e movimentos bem delineados.
Como foi magistralmente explicado no norte da India o coração comanda a mente e no sul é a mente que comanda o coração mas ambos com o seu encanto particular.
Admirável.