Disposto em anel o húmus preto misturava-se com o verde da erva e o castanho da terra. Vozes envolviam o recinto, os galos cantavam com um barulho abafado, e a agitação do trânsito fazia a sua aparição com um som distante, mas constante. O sol ainda tinha brilho suficiente para pintalgar as folhas com um curioso rendilhado de pontos de luz, criando o aspeto de um impressionista quadro efémero quando dois vultos em postura quase animalesca entram em cena acompanhados de uma vibrante melodia telúrica.
O som compassado e entrecortado por um explosivo vortex acústico que se sobrepunha de forma invasiva ao continuum harmónico estava em sintonia com a contorção dos corpos que se envolviam em danças acrobáticas, ora em atitudes de êxtase ora de inanidade, num ciclo em que a vida rasgava e ressurgia após a morte, simbolizando a eterna dança de vitoria anunciada.
Pontuado por formas de afecto provocatória e incivilizada, os dois seres que tanto podiam ser primitivos ou o que restou de uma qualquer apocalipse, deram o seu máximo para deleite da assistência.
Quando as palmas explodiram já as árvores e a terra formavam um todo compacto, e a luz eléctrica iniciava a sua tímida aparição.

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