Indolente e desinteressada, concentrada em si mesma e senhora absoluta do seu caminho, a Terra parece permanecer eternamente no mesmo local apesar de estar sempre em movimento.
Sentado num banco da Praça Camões alguém folheia o jornal, mas a confusão dos painéis, o colorido dos balões e o rufar de tambores despertam a sua atenção. O lugar está inundado de pessoas atarefadas, que discutem sobre temas que interessam a todos.
Lera algures, “é preciso agir, basta de estudos”, ou será que ouviu no noticiário, onde as várias calamidades se sucedem a ritmos aceleradamente constantes.
E com uma expressão de apelo á concentração levanta o semblante e tenta relembrar.
Dizimamos ecossistemas a uma escala industrial, perseguimos espécies até a extinção sem o mínimo cuidado pelos impactos que causam não só na vida dos outros como na da própria Gaia
Ardemos as nossas florestas e esquecemos que os gases absorvidos em milhões de anos são drasticamente lançados para a atmosfera.
Esses gases contribuem para o efeito de estufa, causam o aquecimento global e consequentemente o degelo do permafrost que por seu lado também liberta os gases nele retidos.
E este ciclo expande as suas influências; ao derreter o gelo o nível médio da água do mar aumenta e a superfície branca dá lugar a zonas pardacentas, mais escuras, com uma manifesta redução na capacidade de reflexão da luz solar que é máxima no branco do gelo puro.
Ah e o que dizer da corrente termoalina do Atlântico, a chamada corrente do Golfo e uma das maiores reguladoras do clima do nosso planeta.
O seu motor é a diferença de densidade ocasionada pela salinidade e temperatura das águas. As águas dos polos são mais frias e menos salgadas do que as do equador mais quentes e salgadas.
No Atlântico norte, a corrente do Golfo, circula do equador em direção ao Pólo Norte e transporta o calor para toda a Europa ocidental. Quando chega ao Mar da Noruega, a água mais quente e mais salgada, encontra as águas frias e menos salgadas vindas do pólo; Devido a sua salinidade é mais densa e por isso desce em direção às profundezas do oceano.
Mas o degelo ao colocar água doce em grandes quantidades no circuito dilui o sal e ocasiona desajustes que podem ir ao extremo de impedir que a corrente desça, obstruindo assim o transporte de calor para a Europa. Não haveria outro rótulo para o estagnar deste processo senão “Um desastre climático”.
É bem verdade que os factos provam que a alteração do clima longe de ser fruto de uma profícua imaginação é bem real, mas também é verdade que o planeta sempre teve alterações ao longo da sua vasta história.
Suspira!. Bahh se fosse assim tão importante já alguém teria tomado medidas profundas.
Esqueceu-se de pensar que o clima leva muito tempo até as pessoas sentirem as alterações e que a equação tem muitas variáveis e ainda mais incógnitas e quando polvilhadas por catalisadores na maioria desconhecidos, podem desencadear padrões que estarão muito para além do controlo humano.
Dobra o jornal até ficar rijo, até o sentir como um escudo protetor, e sempre à espera da verdade, encolhe os ombros e pensa, estamos longe dos locais da catástrofe.
Nem deu conta mas a manifestação já há muito iniciara a sua marcha, palavras de ordem perdiam o impacto, o som desvanecia-se no meio das buzinas e do roncar dos motores.
Vista do espaço a atmosfera que nos protege mais parece uma delicada neblina que corre sérios riscos de se fundir com o etéreo levando consigo as nuvens até estas se evaporarem em delicadas espirais de fumo.
Indolente e desinteressada, a Terra SACODE o seu casaco para ajustar o seu equilíbrio e esquecida em si mesma continua o seu movimento de sempre.
A manifestação pela sensibilização do clima do planeta aconteceu em Novembro de 2016.

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