O Palácio Centeno abriu no dia 8 de setembro de 2017, as suas portas à exposição de fotografia “Os Lugares da Colina” e ao longo de três dias foi um lugar de visita obrigatória, não só pela qualidade das imagens expostas como também pela relevância do tema escolhido.

Integrada no Festival Todos, um festival que durante um fim de semana por ano promove o intercâmbio de experiências e sabores gastronomicos entre diferentes credos de várias partes do mundo, ocupou um espaço histórico, numa colina repleta de história.

De cinco colinas indicadas por Damião de Gois, Lisboa passou a apresentar 7, talvez influenciada por Roma e pelo facto dos Romanos verem semelhanças entre Felicitas Julia (Olisipo) e a capital do seu Império. De todas elas foi a Colina de Santana que fervilhou com calor humano no segundo fim de semana de Setembro. Recheada de múltiplas culturas esta vetusta colina onde se acredita ter falecido Camões e no antigo convento de Sant’Ana ter tido sepultura até posterior transladação para os Jerónimos quando ascendeu a figura nacional, foi local de encontros, conversas, musicas e danças numa união artística de diferentes latitudes.

Quem nos dias de hoje vê o aprazível jardim dos Campo Mártires da Pátria dificilmente vislumbra o passado desta zona da capital que já serviu de matadouro no seculo XVI, já teve um mercado de hortaliças em meados do seculo XIX e até uma praça de touros entre 1831 a 1889, (no local onde mais tarde se edificou o instituto de medicina legal), tão do agrado da Rainha Carlota Joaquina.

Mas o palácio das açafatas da Rainha, com, acredita-se, um corredor subterrâneo para o Palácio da Bemposta onde residia a Rainha D.Catarina, e mais tarde adquirido por Alberto Centeno que o ajustou ao gosto da época, recebeu com a elegância da sua entrada onde se destacam golfinhos e anjos, e a profusão dos  painéis de azulejos do seu interior todos quantos com uma lanterna na mão exploraram as suas salas onde pendiam os diferentes “Lugares da Colina”, intimamente ligados aos hospitais instalados nas antigas casas religiosas, São José foi colégio da Companhia de Jesus, o Miguel Bombarda foi da congregação de S. Vicente de Paula, os Capuchos eram da Província Franciscana de Santo António, Santa Marta era de Clarissas Urbanistas e o Desterro era dos religiosos de São Bernardo constituindo um património que enriquece a colina tornando-a única no género.

A esta herança arquitetónico, juntam-se grandes mulheres que de alguma forma estão ligadas a colina, como seja a rainha D.Estefânia com a sua extrema sensibilidade humana para com as crianças mais fragilizadas, Beatriz Ângelo, a primeira mulher a operar em São José e aquela que na luta pelos direitos das mulheres foi a primeira a votar em Portugal, Amália a fadista que por ali nasceu, sem esquecer as mulheres talhantes que tratavam da carne do curral, as negras que serviam em casas abastadas e as de triste vida com as suas dolorosas maleitas que as obrigavam a estadias forçadas no Hospital do Desterro.

Todas com direito a lembrança coletiva pelo seu legado , sem esquecer a investigadora Dr. Célia Pilão que deu corpo ao passeio que movimentou largas dezenas de pessoas ela mesma uma das grandes mulheres da colina.

Ver Artigo Completo