Era a ultima sexta feira de Setembro quando no palco do jardim D-Luis I, bem no centro do Cais do Sodré um imperioso NÃO gritou o seu desejo de se impor e de ser ouvido. A pressão do arco fazia as crinas raspar as cordas do violoncelo que com sons ásperos e com ritmos mais vincados do que melodiosos rasgava o ar num acompanhamento perfeito ao poema que estava a ser declamado.

Espalhados pela área verde, cubos improvisavam assentos mas a maioria dos ouvintes preferia o relvado onde não raras vezes se deitava. Escutavam e conversavam, estávamos no festival silêncio que abriu alas à palavra privilegiando o intercâmbio de conhecimentos e expressões artísticas em diversos locais deste bairro ribeirinho.

Lojas, galerias, fachadas, ruas, a praça de São Paulo e o jardim todos se uniram na celebração da palavra como veiculo de transmissão de ideias, de valorização do conhecimento, de discussão e de união entre todos os que queriam participar, fossem eles moradores, visitantes ou apenas curiosos.

Havia árvores com frutos originais, livros, disponíveis para ser manuseados e vários eram os que mostravam interesse. Mas num périplo descomprometido pela área e enquanto ainda soavam os acordes do violoncelo e a voz da improvisação se impunha tonitruante, na rua cor de rosa as palavras tinham um sabor musical e cinematográfico. Cadeiras de armar transformavam-se em poltronas de plateias, e para quem queria o conforto de uma bebida, as esplanadas também estavam a altura.

Muito se falou e muito se aprendeu, porque lá como em qualquer outro lugar se sabe que só com discussão construtiva e vontade de inovar, de fazer diferente podemos ambicionar horizontes audazes muito para além do que cada um “per si” pode imaginar.

As imagens dizem respeito apenas ao fim de tarde de 29/09/2017.

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